Em novembro recebemos 3 clientes de Curitiba e depois de um bate-papo soubemos que JOSÉ AUGUSTO JENSEN, OSVALDO AKITA e WANDERLEI MARGOTT são cinéfilos. Como foram à Cinemateca Capítólio e a mesma estava fechada acabaram retornando e conferindo todos os filmes do Guion!

Deste bate-papo acabamos presenteados com uma bela reportagem do crítico JOSÉ AUGUSTO JENSEN, que ficou muito bem impressionado com o cinema e queremos compartilhar com vocês.

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Revista Idéias fevereiro 2019
Cinema para cinéfilos
Por José Augusto Jensen

Que tal um cinema com projeção e som de alta qualidade, poltronas confortáveis com grande distanciamento (2 metros entre um espaldar e outro) e que loca pufes para esticar as pernas sem cobrar os preços exorbitantes das ridículas salas “Vips”. Não está localizado em shopping, o consumo de pipoca e refrigerantes é baixíssimo nas salas de exibição, pois não é incentivado e colocado como lucro principal da empresa. Nas sessões em que estava, não ouvi barulhos de mastigação, nem o cheiro característico de gordura. Só exibe filmes classificados como de alta qualidade, de diversas nacionalidades, principalmente da Europa, América Latina, asiáticos, e cinematografias menos conhecidas. Pois este cinema existe, é o Guion Center Cinemas, com três salas de exibição, mais um ótimo café, loja de CD’s, livros e galeria de arte. Situado aos fundos de uma galeria com amplo estacionamento conveniado, lojas, restaurantes, cervejarias, lanchonetes. Isto existe em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Centro Comercial Nova Olaria, Rua General Lima e Silva, número 776, Cidade Baixa, CEP 90010-150.

Inaugurado em 1995 por Carlos Schmidt, jornalista, proprietário e programador das salas com ênfase em mostras e festivais, este grande agitador cultural, é auxiliado por funcionários, sua simpática esposa Aiko Shimozaki Schmidt e o filho do casal, o artista visual Yuji. Não recebe incentivo do governo, de nenhuma lei, é um empresário das artes, com tudo que isso implica.

Carlos nasceu em 1953, participou de festivais com um filme seu, e que talvez aí tenha surgido o embrião para seu envolvimento com a exibição, pois cria a primeira cinemateca do Rio Grande do Sul – Cinemateca Gaúcha, em 1983, sendo seu presidente até 1995. Reuniu grande e importante acervo com mais de 2000 títulos. Em 96 recebe a medalha “Cidade de Porto Alegre” por relevantes serviços, e em 97 o Troféu Destaque em Cultura conferido pelo Jornal do Comércio de Porto Alegre. Um cinéfilo apaixonado e exigente, atento principalmente a aperfeiçoamentos tecnológicos com que sempre se mantém atualizado. Desenvolveu com uma fábrica de alto-falantes projetos especiais de sonorização para suas salas. Esta parceria resultou na construção de enormes subwoofers em concreto para melhorar a resposta de baixas frequências, também muito importantes nos filmes de hoje. Não vi isto em outro cinema que tenha frequentado.

É o melhor dos mundos, pois não pertence a uma entidade pública, como na mesma Porto Alegre, a Casa de Cultura Mário Quintana, decadente, com os cinemas em péssimo estado, projeção e som sofríveis, com interferência de barulhos externos, ou como nas grandes redes, por exemplo UCI ou Cinemark, em que o lucro principal vem da lanchonete, pouco importando o filme projetado, e o cliente tratado como consumidor de “fast-food”, aos trancos. O cinema do Carlos, é como um bom restaurante em que o dono está sempre presente supervisionando tudo, em permanente contato com os clientes, clientes estes cativos e diferenciados dos de shopping.

Na noite em que fui ao Guion em novembro do ano passado, parecia que eu estava em outro país. Depois de um delicioso café com alguma guloseima, assisti “Museu” (Museo), produção mexicana de 2018, dirigida por Alonso Ruizpalacios com Gael Garcia Bernal, em grande atuação e Leonardo Ortizgris. Roteiro baseado em fatos reais ocorridos em 1985 em que jovens veterinários, sem passagens pela polícia, conseguem roubar mais de cem peças valiosas do Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México. Projeção e som impecáveis, sem interferência de salas contíguas, público educado, sem perturbações com conversas ou celulares. Depois, um jantar “a la minuta”, na galeria em frente ou nos inúmeros bares e restaurantes com cadeiras nas calçadas do bairro boêmio portoalegrense. Para mim uma ótima noitada com amigos, bom chope gelado, discutindo o filme visto.